O Movimento Geração à Rasca surgido “não representa a Maria da Fonte do século XXI”, há “paralelismos” entre o momento atual e o de 1846, embora “não haja espaço para uma nova Maria da Fonte”.
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Esta é a tese de mestrado defendida por Paulo Ribeiro Freitas, que dedicou parte do seu percurso académico a estudar a Revolta da Maria da Fonte, que levou à queda do Governo de Costa Cabral.
Foto: Jornal Maria da Fonte
Paulo Ribeiro Freitas, também chefe da divisão de Cultura e Turismo da Póvoa de Lanhoso, diz à agência Lusa que a “heroína do Minho”, Maria da Fonte, “nunca foi identificada com precisão, é mais do que um nome próprio. É o nome de um coletivo de mulheres que em 1846 ousou rebelar-se contra o poder administrativo vigente”.
As “gentes” da Póvoa do Lanhoso “não aceitavam que alguém nomeado pelo governo central tivesse mais poder do que o responsável pela autarquia, que era eleito pela população”.
A “gota de água” foi a repressão violenta contra um grupo de mulheres que queria, contrariando a nova lei da Saúde, enterrar uma idosa na igreja e não no cemitério.
No reinado de D. Maria II, António Costa Cabral encetou em Portugal, no ano de 1842, uma série de reformas administrativas que visavam modernizar a estrutura do Estado mas também reformas fiscais que incluíram o aumento da carga fiscal e que chocaram com hábitos há muito arreigados na sociedade.
Com a imposição de uma nova Lei da Saúde, em 1844, que proibiu o enterro nas igrejas, assim como tornou obrigatório o registo do óbito e a obtenção de uma licença sanitária para depositar os restos mortais em cemitérios, a contestação aumentou.
“Pode o Movimento Geração à Rasca ser visto como a Maria da Fonte do século XXI? Não. Não no sentido de se igualar o objetivo de exigir reformas, como é apanágio da Geração à Rasca. Pode haver uma ligação no facto de em ambos os movimentos estarem incluídos várias fações políticas, embora também ambos se afastem deles”, responde.
Paulo Freitas encontra “paralelismos” entre a Revolta da Maria da Fonte e a “necessidade de reformas político-administrativas”.
“Contestava-se a aplicação do modelo de organização administrativa do território elaborado por Mouzinho da Silveira em 1836”, esclarece.
Hoje “também o descontentamento com o modelo de administração é patente e latente. E tal como fez a Maria da Fonte, contestasse a autoridade exercida por algumas figuras do Estado”.
Há espaço para uma nova Maria da Fonte? “Não. Hoje vivemos demasiado centrado em nós. Na Maria da Fonte um grupo de “heroínas” sacrificou-se por um bem maior. Hoje ninguém faz isso”, conclui.
29-05-11 - Correio do Minho
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