Homenagem a Francisco Tinoco de Faria marcada pela emoção

A homenagem, pelo Partido Socialista da Póvoa de Lanhoso, ficou marcada pela projecção de ‘A Linha em Vida Recta’, um documentário de José Abílio Coelho — jornalista, escritor e doutorando em História pela Universidade do Minho, e Tiago Barros Coelho. Teve lugar ainda uma mesa redonda sobre a vida do homenageado, com a participação de amigos e familiares.


A evocação culminou com o descerramento de uma fotografia que ficará exposta na sede concelhia do PS.
Francisco Tinoco de Faria, fundador do Partido Socialista e reputado advogado, faleceu a 25 de Novembro de 2010, dois dias antes de completar 85 anos.

Belarmino Dias: pessoas assim cada vez são mais raras

Na cerimónia, realizada no Theatro Club da Póvoa de Lanhoso, Belarmino Dias, o presidente da comissão política concelhia do PS, referiu que se tratava de uma homenagem simples, como o homenageado gostava que o vissem, mas, simultaneamente, muito significativa, como a sua vida foi para todos.

“No contexto em que vivemos, onde a ausência de valores é gritante, a desconfiança aumenta, a solidariedade diminui e a liberdade tende a perder significado, cada vez são mais raras pessoas e personalidades como o dr. Francisco Tinoco de Faria”, disse Belarmino Dias.
Na tela, e durante 30 minutos, José Abílio Coelho e Tiago Barros Coelho deram a conhecer o político, o advogado e o cidadão.

A luta pela democracia, opondo-se ao regime de Salazar, que lhe valeu 19 dias de cadeia, quando da candidatura de Humberto Delgado; as incursões no PCP e no MUD, onde conviveu com Almeida Santos e Mário Soares; a passagem pela Acção Socialista Portuguesa), que veio a transformar-se no PS; a fundação do Partido Socialista; a carreira como advogado, exercida durante 21 anos na Póvoa de Lanhoso; e o seu papel como marido e pai foram focados no documentário.

Em Braga, com Artur Cunha Coelho, Ferreira Salgado, Lopes Tavares, Agostinho Domingues e Jerónimo Louro, Francisco Tinoco de Faria assumiu a instalação do Partido Socialista no distrito e responsabilizou-se pela secção da Póvoa de Lanhoso.
Contou com o apoio de Casimiro Pinto, Adriano Sá e José Acácio Pereira Dias.
Regressando a Lisboa, integrou a Comissão Política Nacional do PS, integrou a lista por Braga, em 1975, à Assembleia Constituinte, tendo sido eleito deputado.

“Carreira política nunca foi objectivo”

“A carreira política nunca esteve nos seus objectivos. Por isso, assumiu sempre uma posição discreta na bancada socialista, muito embora, no silêncio dos gabinetes de S. Bento, tenha dado valiosíssima contribuição na redacção do texto constitucional, onde trabalhou directamente com Jorge Miranda, Vital Moreira e Amaro da Costa, entre muitos outros”, refere José Abílio Coelho, no documentário.

A carreira política, ao alto nível, interrompeu-a em 1976, por opção própria mas retomou-a, a pedido dos socialistas da Póvoa de Lanhoso e, de 1989 a 1993, desempenhou o cargo de presidente da Assembleia Municipal.

Do casamento, em 1953, com Amália Holbeche, nasceram dois filhos, João Manuel Holbeche Tinoco de Faria, advogado e presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, de 1993 a 2003, e Maria Amália Holbeche Tinoco de Faria.

Lestra Gonçalves, advogado, foi um dos intervenientes na ce-rimónia. Recordando a sua ami-zade com Francisco Tinoco de Faria, iniciada em 1969, apontou o homem simpático, cordial, de carácter, fraterno e jovial, assim como o advogado perfeccionista e brilhante.

“Era um homem estudado e respeitado por todos os qua-drantes políticos. Isto é que é ser democrático”, destacou Lestra Gonçalves. “Sugiro às instituições da Póvoa de Lanhoso que perpetuem o seu nome nesta terra, a quem se dedicou apaixonadamente, por ser um acto de justiça”, frisou o advogado Lestra Gonçalves.

Profundamente emocionado, e com a voz embargada, João Tinoco de Faria, referiu o homem justo, solidário e honesto que foi o seu pai. “Não quero falar do meu pai. Quero apenas dizer que aquilo que ele e a minha mãe nos transmitiram são os princípios fundamentais da nossa vida”, disse João Tinoco de Faria.

A mesa redonda contou ainda com as intervenções de Óscar Ferreira Gomes, José Almeida Faria, Maria Cândida Serapicos e Ricardo Gonçalves. Na sua intervenção, o médico José Almeida Faria apelou aos responsáveis do município para lhe reconhecer uma expressão monumental merecida, que transmita a sua memória à posteridade.

28-11-2011 - Correio do Minho

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